Herança pátria
27-03-2002 17:30:00 GMT. Notícia 3463558
Temas: cultura, lusofonia, timor-leste
Dicionário para ajudar observadores nas eleições timorenses tem erros graves
António Sampaio, da Agência Lusa Díli, 27 Mar (Lusa) - A maioria das versões em português de um pequeno dicionário de frases úteis, preparado especialmente para os observadores internacionais que vão acompanhar as eleições presidenciais de 14 de abril em Timor Leste, estão incorretas ou têm erros.
Além da falta de acento, o dicionário preparado pela Comissão Eleitoral Independente (CEI) acaba confundindo mais que explicando, podendo até "ofender" alguns dos observadores que estranharão as sugestões oferecidas.
É o caso da expressão "controladores de bicha" - mais tarde passa a "bischa" - que, como lembram os compatriotas do brasileiro que chefia a ONU em Timor Leste, Sérgio Vieira de Mello, devem ser sempre identificadas como "filas".
A lista de erros é interminável e das mais de 130 palavras ou frases traduzidas, apenas cerca de um terço estão corretas, apesar de sofrerem com a falta de acentos.
O restante é dominado por traduções ao pé da letra, por erros de concordância, na construção das frases e até por adaptações "criativas".
É o caso da tradução do termo inglês "flashlight" - a simples lanterna - que, talvez pelo "flash", aparece na versão pseudo-portuguesa como "pisca" ou "lampejo".
Abrangendo um conjunto de situações e de temas - de "material eleicao", a transporte, passando por comida e "lugares" - o dicionário inclui traduções para várias palavras e frases úteis, centrando-se especialmente no importante processo eleitoral.
Torna-se assim um instrumento tão importante que já foi incluído no pacote preliminar disponibilizado pela União Européia para a sua equipe de observadores, sendo possível obtê-lo através da página oficial da missão que acompanhará o voto de abril.
Mesmo antes de se entrar na complexa construção de frases - "Quem e funcionario de centro votacao de bicha?" - o mote do dicionário é ditado logo nas primeiras palavras indicadas.
Urna passa a "caixa de vota", boletim de voto a "papel de vota", Assembléia perde o "e" e o centro de contagem é simplesmente identificado como "centro de contar".
Tinta fluorescente é "florecenta", o material não- sensível é "non sensetivo" e o caderno eleitoral é a "lista de votar".
É no setor de alimentação que os observadores se serão mais "ajudados" pelas traduções, com exceção de "garfu", ao simples copo de "aqua" e aos "vegitais" que podem tornar complicado encontrar "comida vegetariano".
Por outro lado, os transportes vão ser bem mais complicados.
O carro é "caro" - um erro que se repete o que evidencia não a omissão de um "r", mas sim a má tradução -, o combustível é "petrolio" e quem quiser abastecer o "caro" tem que se dirigir, como não podia deixar de ser, à "estacao petrolio".
Para chegar até algum posto, especialmente em algumas zonas de Timor Leste terá que andar alguns "kilometros", devendo virar na primeira á "derieta", antes de seguir sempre "recto".
Como ainda pode apanhar alguns períodos de chuvas, em que prevalecem os mosquitos, recomenda-se desde sempre que use "repalante".
Quando finalmente chegar a onde quiser ir, aproveite para dar um salto a uma "igreija" e não se esqueça de cumprimentar quem encontrar no caminho: o dicionário recomenda "adues", "como es estas" e "conlicensa".
Os observadores eleitorais, até porque este é um dicionário para eles, são alertados sobre a forma como devem se apresentar: "Meu nome e ( ) eu sou observador eleitoral internasional aqui esta a minha credencial".
Seguindo as sugestões da CEI, o observador não poderá ficar admirado de não obter resposta se, por infelicidade, tiver de perguntar a alguém algo como "Meu caro esta avariado, onde q e polisia civil/military mais proxima?", ou "Mue companhia estas doente onde q e policia civil/military mais proxima".
Por tudo isto recomenda-se cuidado e um bom dia de "vota".
"Adues".
ASP/TE Lusa/Fim