Estudantes portugueses ensinam em Timor
Instituto Camões lança projecto-piloto
Promover a língua e a cultura portuguesas junto dos jovens de Timor-Leste, entre os 14 e os 17 anos, é o grande objectivo da acção promovida pelo Instituto Camões, em parceria com o Instituto da Cooperação Portuguesa (ICP) e com o Instituto Português da Juventude (IPJ).
O projecto-piloto iniciado este ano vai levar 20 formadores portugueses a Timor-Leste, como salientou a O DIABO Maria José Stock, presidente do Instituto Camões. Alguns deles já estão no terreno, preparando as acções a realizar.
São estudantes universitários (nalguns casos recém-licenciados) que, depois de terem recebido um mês de formação em Lisboa, vão deslocar-se a Timor-Leste para desenvolver actividades de carácter lúdico em áreas diferenciadas que englobam a língua portuguesa, a jovens da faixa etária que não foi formada no ensino do Português. O número de formandos poderá atingir os quatro mil.
«Esta é uma acção que promove também um intercâmbio que potencia o próprio mundo lusófono», refere Maria José Stock, que sublinha o patrocínio da Portugal Telecom, que financia a quase totalidade do projecto. O IPJ contribui com verbas de um projecto próprio e com o pagamento das bolsas aos formadores que vão estar em Timor-Leste.
O Instituto Camões tem a cargo a formação que foi dada aos jovens estudantes portugueses e o Instituto da Cooperação Portuguesa os custos da equipa de dois formadores/orientadores.
O custo total do projecto ronda os 50 mil euros.
Projectos a desenvolver nos PALOP...
O projecto envolve também os apoios de diversas organizações não-governamentais (ONG), federações desportivas, Escola Superior de Teatro e Cinema e a Fundação para a Divulgação das Tecnologias da Informação.
Uma equipa de formadores (cinco elementos) vai ficar em Díli e a outra em Manatuto.
Esta acção poder-seá estender aos Países Africanos de Língua Oficial Portuguesa, já no próximo ano, segundo Maria José Stock. Tudo vai depender das conclusões deste projecto-piloto a decorrer em Timor-Leste.
Os formadores portugueses que vão aproveitar a pausa lectiva para encetar acções de formação no âmbito da cultura e da língua portuguesas regressam a Lisboa no final de Setembro.
Música, Português, Teatro, Desporto e Informática constituem as áreas que vão ser ministradas durante a formação. O governo português aposta desta forma no desenvolvimento, na compreensão e na apetência pela língua portuguesa a um segmento de timorenses que não tiveram praticamente formação nesta área.
Segundo a presidente do Instituto Camões, a cooperação portuguesa continua a considerar Timor-Leste uma prioridade.
Aventura e ensino
Luís Santos, 28 anos, actor efectivo do Teatro da Cornucópia, é um dos formadores que já estão em Timor-Leste.
Encontra-se em Díli e afirma que a «brincar e a jogar é possível ensinar estes jovens a compreenderem melhor a nossa língua e a nossa cultura».
As actividades começam hoje e Luís Santos conta com um grupo de mais de 60 jovens, entre os 14 e os 17 anos, para ensinar os «costumes» e a língua de Camões a um povo carenciado e «ávido de aprender».
O que levou este actor de carreira a Timor-Leste foi a curiosidade de ver
in loco um território e um povo que «tocaram tanto os sentimentos do povo português».
A iniciativa lançada pelo Instituto Camões é encarada como uma «aventura». Uma nova experiência, que levou Luís Santos a cancelar a sua participação nas peças teatrais previstas para Setembro, em Lisboa.
«Por ser pioneira, esta iniciativa cativou-me muito», explica o actor.
Ensinar teatro a jovens que ainda não dominam uma das línguas oficiais do seu país é um grande «desafio».
As actividades vão desenvolver-se através de jogos dramáticos, interligadas com as áreas do Desporto e do Canto. Vão ser também concretizadas acções de dança e de folclore português, juntamente com as danças e cantares típicos de Timor.
Espírito de missão
Luís Santos está em Timor para ensinar e «aprender». É voluntário. E o que o moveu foi o «espírito de missão, que nos envolve a todos na causa deste país». «Acompanhamos com muita emoção o percurso deste povo, da luta efectuada em língua portuguesa. Isso sensibilizou-me e nunca seria por motivos financeiros que aceitaria este projecto», sublinha o actor da Cornucópia. A apresentação final, em Setembro, contará com a encenação da «Lenda do Crocodilo», para além de textos de Xanana Gusmão e de outros autores timorenses.
Caixa de chamada
«Férias em Português» é uma acção promovida pelo Instituto Camões e tem por objectivo aproveitar a pausa lectiva dos estudantes para ensinarem língua e cultura portuguesas em Timor-Leste. As actividades começam hoje. Os PALOP podem ser abrangidos já no próximo ano.
Legenda de fotografia
Maria José Stock aposta nas capacidades dos estudantes portugueses para levarem a nossa língua e cultura aos jovens de Timor-Leste
Publicado em O DIABO nº 1337, 13.08.02, página 17
Comentários
1. Não tive qualquer conhecimento sobre esta iniciativa do IC. Procurando bem, e é de facto necessário procurar muito bem, naquele site institucional, existem umas referências a este assunto. Mas não vejo qualquer aviso, abertura de concurso ou seja o que for que pudesse interessar aos visitantes do "Sítio de Timor". Admito que possa eu próprio, ainda assim, ter procurado mal, ou pouco.
Para quem trabalha todos os dias com o assunto "Timor", devo reconhecer que, desta vez, falhei?
2. Interessaria saber como se processou esta iniciativa. Foi feita alguma selecção de candidatos? Ou foi por convite? Existiu processo de selecção? E quais foram os critérios? Onde estão os documentos legais que suportam, ou deviam suportar, este tipo de iniciativas oficiais?
3. Sobre o conteúdo da peça jornalística:
- O que tem um actor profissional, "28 anos", apresentado como exemplo e ilustração, a ver com um estudante universitário?
- Afinal, são estudantes ou recém-licenciados? E, destes, quantos?
- Se o "projecto" é financiado pela Portugal Telecom, pelo ICP, pelo próprio IC, e envolve também os apoios de diversas organizações não-governamentais (ONG), federações desportivas, Escola Superior de Teatro e Cinema e a Fundação para a Divulgação das Tecnologias da Informação, e existem ainda "bolsas", pagas pelo IPJ, para os "formadores", isto é voluntariado... bem pago?
- «Esta é uma acção que promove também um intercâmbio que potencia o próprio mundo lusófono», refere Maria José Stock.
Seria possível traduzir esta frase?
- As actividades previstas, como "formação", incluem Música, Português, Teatro, Desporto e Informática. Música? Desporto? Repito a segunda pergunta, por me parecer mais extraordinária: desporto???
- O governo português aposta desta forma no desenvolvimento, compreensão e a(*) apetência pela língua portuguesa a um segmento de timorenses que não tiveram praticamente formação nesta área (*?).
Como? Desculpe? Entre os 14 e os 17 anos, jovens timorenses que não tiveram aulas de Português? Deve ser engano. Só pode.
- "Espírito de missão". Nunca ninguém me explicou o que diabo vem a ser isso. Será talvez uma lacuna minha. Estive em Timor e dei aulas o melhor que pude e soube, com o máximo profissionalismo; o meu trabalho diário sobre Timor é feito apenas porque sim, e espero que vá servindo para alguma coisa. Não me interessam as grandiloquências para nada. Ao que sei, aos timorenses muito menos.
- Em Setembro de 2000, conheci em Díli um professor destes, de Verão. Tinha uma turma o mais heterogénea e pitoresca que imaginar se possa; usava um típico chapéu colonial, mas notava-se a sua dedicação, até pela forma como suava abundantemente enquanto dirigia os alunos, à maestro; cantaram o "Malhão-malhão", a "Laurindinha", o "mestre André" e outras conhecidas pérolas da Cultura portuguesa. Os timorenses gostam muito de cantar.