sexta-feira, 29 de novembro de 2002
Discurso directo
Indecentemente surripiado do grupo "Ajudar-Timor" (mas aí já era forward de forward e portanto o surripianço não é grave), segue a versão integral do último discurso de Xanana Gusmão.
Como já antes aqui escrevi, este homem não manda dizer as coisas por terceiros, não insinua, não usa entrelinhas ou subentendidos, não sofre de verborreia e nem sequer é a tremenda seca politicamente correcta do costume. Para ler este discurso, é conveniente estar sentado e não ter pressa. Agradece-se que desliguem os telemóveis.
O PRESIDENTE DA REPÚBLICA
ALOCUÇÃO DE SEXA O PRESIDENTE DA REPÚBLICA, KAY RALA XANANA GUSMÃO POR OCASIÃO DAS CERIMÓNIAS OFICIAIS PARA A COMEMORAÇÃO DO 28 DE NOVEMBRO
Dili, 28 de Novembro de 2002
Sua Excelência o Presidente Interino do Parlamento Nacional,
Sua Excelência o Primeiro Ministro,
Distintos Membros do Parlamento Nacional,
Distintos Membros do Governo,
Distinto Vice Representante Especial do Secretário Geral da ONU
Distintos Representantes das Missões Diplomáticas,
Senhoras e Senhores,
Esta é mais uma data para se celebrar a independência de Timor-Leste!
A independência não deveria ser celebrada, a independência deveria ser vivida nos seus benefícios. E é este o nosso problema maior, depois de mais de duas décadas de luta e depois de, mais recentemente e como ponto de referência, o 20 de Maio de 2002.
O que é que deveria significar a independência? Não será o conceito de “ou tudo ou nada”, mas temos a certeza deveria significar alguma coisa.
No “deveria significar alguma coisa”, podemos orgulhar-nos de termos uma bandeira, um hino e uma Constituição. Podemos afirmar também que temos um Presidente da República, que temos um Parlamento com 88 membros, muitos dos quais estão sempre a faltar e um Governo com muitos ministros e vice-ministros, porque se diz que há muito trabalho a fazer.
No “ou tudo ou nada”, podemos dizer que a independência significa, hoje em dia, um país com muitos problemas, que não são resolvidos com o devido cuidado.
28 de Novembro é uma data da FRETILIN! 20 de Maio é também dia da FRETILIN! A maioria no Parlamento é da FRETILIN! O Governo é essencialmente da FRETILIN! A independêncai serviu para se atender aos quadros da FRETILIN! A independência é para atender também os Antigos Combatentes da FRETILIN!
Celebra-se o 28 de Novembro de 2002, com a sensação de mágoa, por causa dos problemas de Uatu-Lari, com os problemas em Dili, com os problemas de Ualili e Baucau, com os problemas de Same e Ainaro, com os problemas de Ermera e Liquiçá, com os problemas de Suai e Maliana.
Infelizmente, nota-se que, criando problemas, pode-se levar algumas pessoas a Ministro, e que essas pessoas, depois de serem Ministros, só sabem aumentar os problemas. Há poucas semanas atrás, dei posse a mais um Vice-Ministro de Administração Interna, fazendo o apelo para que aquele Ministério comece a resolver com vigor os problemas que afectam a establidade e a segurança do país. O facto é que os problemas têm vindo a acumular-se.
Se a independência é só da FRETILIN, eu não tenho nada a comentar. Se a independência é para todos nós, todos os timorenses, eu aproveito esta oportunidade para exigir ao Governo a demissão do Ministro da Administração Interna, o Sr. Rogério Lobato, por incompetência e desleixo.
Conforme a Constituição, Timor-Leste ficou independente em 28 de Novembro de 1975! Há 27 anos que se é independente – vejam só! Presto a minha homenagem à FRETILIN!
Porém, para a Comunidade Internacional, ficámos independentes em 20 de Maio de 2002! Eu próprio fiquei sem saber como fazer um discurso em 28 de Novembro, com tantos problemas que o Governo tem nas suas mãos e, ainda por cima, com duas datas nas minhas mãos!
A justificação de que só há seis meses atrás se recuperou a soberania, não pode prolongar-se indefinidamente. A questão de que só pertence a alguns a obrigação ou a legitimidade de gerir Timor-Leste é reveladora não só de arrogância, como também de ausência de maturidade política e da total falta de consciência das dificuldades do país.
O que se nota é que as pessoas se deixam levar, muitas vezes, a assumir que os quadros do Partido é que merecem ser nomeados para este ou para aquele lugar! Perdeu-se a noção dos “interesses nacionais”, perdeu-se a noção dos “superiores interesses do povo e do país”, perdeu-se a noção da nova conjuntura do processo, que exige a capacidade para cumprir e dedicação para servir.
As pessoas ficam deslumbradas com o “poder”, as pessoas ficam obsecadas por, como quadros do Partido, serem ou terem que ser os que mandam. As pessoas só sabem exigir que os quadros do Partido, não importa se são bons técnicos ou não, não importa se fizeram alguma coisa à luta ou não fizeram nada, mas porque são quadros do Partido têm que ser eles os “grandes”.
As pessoas começam, erradamente, a medir o número de lugares pelo número dos quadros do Partido, para que todos se acomodem porque o partido é grande, e as pessoas ficam insatisfeitas porque nem todos sobem ou nem todos podem ir para cima.
Esta é a doença que arrastou muitos partidos e muitos países recém-independentes ao desmando, à ineficiência, à corrupção e à instabilidade política, onde os governantes vivem bem e o povo na miséria.
Hoje, o Povo vive as maiores dificuldades no seu dia-a-dia, mas o Partido vive o problema de não poder acomodar todos os seus quadros, com o perigo ainda de virmos a ter incompetentes administrando distritos e sub-distritos.
Disto tudo, se nota que muitas pessoas se servem dos partidos e não servem os seus partidos, e se servem os seus partidos não servem o país.
Hoje, celebra-se o 28 de Novembro e convido a todos a pensar nos deveres de cada um como cidadão e, sobretudo para alguns, nos deveres como governantes.
Muita gente ainda não sabe o quanto somos vulneráveis, depois da independência. Os Partidos políticos vivem a ilusão da independência, quando estamos, mais do que nunca, tão dependentes! Dependentes dos favores de outros, dependentes da grandeza e capacidade de outros, dependentes da nossa própria fraqueza ... de sermos um país pobre, pequeno e inexperiente.
Muita gente desconhece que levamos já como país sub-desenvolvido um estigma, como que um pecado original: a culpa de sermos pobres, pela qual temos que “render graças” aos que mais sabem, aos que mais podem, aos que decidem ... por nós, porque as regras de jogo já estavam estabelecidas e o 28 de Novembro de 1975 não significou absolutamente nada.
Aqui dentro, aqui em Timor-Leste, iniciámos os primeiros ensaios de aprendizagem política, tornando-nos mais vulneráveis ainda, enquanto nação, enquanto povo. E os que podem vão continuando a tentar ajudar-nos a criar a sensação de sobrevivência, porque a tentação que existe hoje, nos timorenses, é a satisfação das recompensas, haja ou não haja motivos para isso. Perdemos a noção da Nação, porque nos agarramos ao sentido dos interesses partidários.
Repito: muita gente desconhece o quanto somos vulneráveis, depois de 20 de Maio. E se não corrigirmos as atitudes, se não corrigirmos as irresponsabilidades, mais vulneráveis nos tornaremos, em cada ano que passa.
Muitos não têm a noção de que vivemos de esmolas, outros não têm a noção de que não podemos continuar a viver de esmolas. Alguns pregam o sentido de realismo, que eu diria de pactuação porque as leis do jogo não são nem podem ser nossas, são dos que podem para não dizer dos que mandam.
Nós os timorenses entretemo-nos, nas nossas politiquices de quem manda mais ou de quantos devem mandar, não nos preocupando em saber do nosso papel, como país independente, e das nossas obrigações, porque só temos obrigações, como país pobre e sub-desenvolvido.
É lindo celebrarmos a independência, duas vezes por ano. É triste, contudo, que o nosso povo tenha tantas lamentações, por cada dificuldade não resolvida.
Apelo ao Governo, aos Partidos sobretudo e ao Parlamento para considerarem seriamente os problemas que estão a acumular-se, ameaçando a estabilidade do País.
Obrigado.
às 01:16
quinta-feira, 28 de novembro de 2002
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cento e cinquenta e sete mil, seiscentos e oitenta crianças mortas à fome, por ano, em Angola
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às 21:42
quarta-feira, 27 de novembro de 2002
Revista de imprensa
Multidão armada atacou esquadra de Baucau
Cerca de quatro centenas de pessoas armadas com armas brancas e de fogo atacaram hoje a esquadra da Polícia de Baucau, a segunda maior cidade de Timor-Leste, tendo provocado várias vítimas e danos materiais no edifício e em veículos estacionados nas suas imediações.
Correio da manhã, 25.11.02
D. Ximenes Belo resigna
O bispo D. Carlos Ximenes Belo apresentou a sua resignação ao cargo de Administrador Apostólico de Díli, alegando razões de saúde, mais concretamente “fadiga mental e física”.
Durante a sua visita ao nosso país, o bispo acusou os governantes de Timor-Leste de viajarem muito e de contactarem pouco com os problemas que a população enfrenta no seu dia-a-dia.
Correio da manhã, 26.11.02
Eurico Guterres apanha dez anos
Eurico Guterres, o líder da maior milícia pró-Indonésia que actuou em Timor-Leste antes da independência deste país, foi hoje condenado por um Tribunal de Jacarta a uma pena de dez anos de prisão.
Horas antes de ouvir a sentença proferida pelo tribunal indonésio, Eurico Guterres mostrava-se bastante confiante, tendo mesmo afirmado aos jornalistas não sentir remorsos por nada do que fez.
Correio da manhã, 27.11.02
Portugal é o pior (do Mundo) em eficácia educativa
Portugal está em último lugar numa tabela elaborada pela UNICEF acerca da eficácia dos sistemas educativos em 24 países industrializados. Dito de outra forma, o nosso país é aquele onde os alunos possuem mais desvantagens em termos das aprendizagens de literacia, matemática e ciências. A Coreia e o Japão estão no topo da lista; Portugal, Grécia, Itália e Espanha ficam nos últimos lugares.
Diário de Notícias, 27.11.02
notas: as notícias apenas estarão disponíveis enquanto os órgãos de comunicação respectivos as disponibilizarem on-line; os excertos são transcritos dos originais
às 17:08
sábado, 23 de novembro de 2002
Em Angola, morrem à fome 18 crianças por hora
Esta fotografia foi enviada para o Sítio em "carta" (forward de forward de forward) de Carmen Melo.
No texto dessa carta, a frase o autor desta foto matou-se há meses
No texto dessa carta, a frase o autor desta foto matou-se há meses
às 03:34
quinta-feira, 21 de novembro de 2002
19-11-2002 10:56:00 GMT 04:56:00 Hora local. Notícia 4355159
Temas: justiça timor-leste portugal
Timor-Leste: Tribunal de Díli ordena prisão preventiva de cidadão português
Díli, 19 Nov (Lusa) - O Tribunal de Díli ordenou hoje a prisão preventiva por 30 dias de um cidadão português acusado de porte ilegal de arma e de ter provocado danos corporais, decisão que mereceu já críticas de peritos internacionais.
Rui Fernando Pereira, 21 anos, foi detido na passada sexta-feira depois de ter disparado contra uma empregada num dos cafés propriedade da sua família, em Díli. O caso assumiu, no entanto, contornos mais graves depois de a vítima, que sofreu ferimentos ligeiros numa perna, ter alterado o seu depoimento inicial.
Logo depois do disparo, que o acusado diz ter sido "um acidente", a vítima garantiu, em declarações à polícia, que não tinha havido intenção criminosa, acabando, todavia por alegar, durante um segundo depoimento, que tinha sido ameaça por ele.
O cidadão português, em Timor-Leste desde Fevereiro, foi hoje presente ao juiz João Carvalho que, na audiência preliminar, aceitou os argumentos do Procurador, Amândio Benevides, que pediu a prisão preventiva para que a investigação seja concluída.
O juiz rejeitou os repetidos apelos do advogado de defesa, Benevides Correia Barros, segundo os quais o arguido não tinha qualquer registo criminal, estava preparado para pagar qualquer caução exigida e não constituía ameaça.
Rejeitados foram igualmente os argumentos apresentados pela defesa, de acordo com a qual Rui Pereira poderá sofrer represálias físicas enquanto permanecer detido na cadeia de Becora, em Díli.
A decisão foi especialmente mal recebida pela mulher do arguido, Odete Costa, que em declarações à Agência Lusa disse temer pela segurança do marido, tendo em conta que foi ameaçado enquanto permaneceu detido no quartel de Díli.
Todos os cafés e restantes empresas propriedade da família do cidadão português, entre os quais o City Café - um dos primeiros a ser aberto depois da violência de 1999 - estão fechados desde sexta-feira, em consequência de ameaças de ataque.
Fonte policial confirmou, entretanto, à Agência Lusa ter já sido aberto um processo disciplinar para investigar a alegação de que um agente policial terá apontado a arma ao arguido, ameaçando-o, quando estava detido no quartel da polícia em Díli.
A mesma fonte precisou ter sido enviada ainda uma carta ao director da cadeia de Becora, onde Rui Pereira já se encontra, solicitando que o português seja mantido numa cela sozinho por se temer "ataques contra a sua integridade física".
Até ao momento não foi possível confirmar se o pedido do comando da polícia em Díli foi ou não aceite.
A decisão do tribunal demonstra, no entender de observadores em Díli, as fraquezas do sistema judicial timorense, entre as quais dificuldades de comunicação entre os intervenientes no processo e a aparente falta de formação profissional dos magistrados e juristas timorenses.
A audiência de hoje foi interrompida para se arranjar um tradutor que falasse português e que acabou, por cometer falhas na tradução, omitindo até elementos da declaração do arguido.
Peritos judiciais internacionais, contactados pela Agência Lusa, questionam também a decisão da aplicação de prisão preventiva afirmando que os juízes
timorenses "abusam" tradicionalmente desse instrumento, dirigindo as audiências preliminares "quase como se fossem o julgamento".
"Muitas vezes consideram as prisões preventivas quase como uma sentença", desabafou um jurista internacional.
Criticam também o facto de a audiência se ter transformado "quase num julgamento sumário", com os debates entre a Procuradoria e a defesa e as questões colocadas directamente pelo juiz ao arguido a "ultrapassarem o que é normal em audiências deste tipo".
"É igualmente estranho que o juiz tenha ordenado a prisão preventiva e, ao mesmo tempo, que o passaporte do arguido fosse apreendido. São duas opções alternativas e que aqui foram usadas ao mesmo tempo", disse.
Outras fontes judiciais sugerem ainda um cenário mais grave referindo que o juiz responsável pelo caso terá referido na segunda-feira que pretendia fazer deste processo "um exemplo".
Observadores no tribunal consideram, por outro lado, que a decisão de hoje foi "afectada" pelo facto de Rui Pereira ser estrangeiro e especialmente por
ser português.
"De todos os magistrados e juízes do tribunal de Díli este foi o único (juiz) que se recusou a ir às aulas de português", afirmou uma fonte.
O caso está a causar mal-estar entre a comunidade portuguesa de Díli, com alguns cidadãos a manifestarem-se preocupados com a falta de protecção que o sistema judicial timorense oferece.
Ao mesmo tempo temem que sectores da sociedade timorense estejam a exercer discriminação contra portugueses.
Esta situação ocorre numa altura em que se registam aumentos significativos nos casos de violência grave e de criminalidade, um pouco por todo o território, com total desrespeito pela autoridade.
Portugueses e outros estrangeiros admitem, por isso, sentir actualmente "mais medo do que nunca", como referiu à Agência Lusa um português que está em Timor-Leste desde Outubro de 2000.
"Nunca senti tanto receio de andar por Timor como agora. Penso que a situação é grave", desabafou.
O caso de Rui Pereira está a ser acompanhado de perto pela embaixada portuguesa em Díli.
ASP Lusa/Fim
[This message was sent to you by the Judicial System Monitoring Programme]
(realces de JPG)
às 12:55
segunda-feira, 18 de novembro de 2002
Timor-Leste: primeiros casos de SIDA
O país mais novo do mundo já registou a sua primeira vítima mortal do VIH. Um homem casado e com dois filhos morreu há alguns meses, tendo sido notificado como o primeiro caso de SIDA no país. A mulher e o filho mais novo também estão infectados. Além destes dois casos, há mais seis pessoas vivas a quem foi diagnosticado o VIH. Os seropositivos timorenses não estão, contudo a ser tratados, porque não existem medicamentos anti-retrovirais no país. Dados oficiais, resultantes de análises efectuadas em transfusões de sangue, dão conta de que 0,64% da população estará infectada, um valor que o Ministro da Saúde de Timor-Leste considerou como “a ponta do iceberg”. O primeiro plano estratégico de combate à SIDA deverá começar a ser delineado em breve por especialistas portugueses.
Revista CONTRASIDA Outubro 2002, pág. 26
Click AQUI para ler a revista completa (formato PDF)
às 04:32
sexta-feira, 15 de novembro de 2002
terça-feira, 12 de novembro de 2002
Frases célebres
Tenho vergonha de ser português
Júlio Resende, 85 anos, pintor (de quadros), in DN 11.11.02
(no comment)
Estamos a chegar ao limite do apodrecimento da vida política
Manuel Alegre, poeta, deputado, etc., in Público 11.11.02
(pessoalmente, não me agradaria nada estar nesse grupo ligeiramente podre)
Eu parto os cornos a Vossa Excelência
José Vilhena, cidadão, citando um qualquer deputado em uma qualquer sessão da AR, in O Moralista Novembro 2002
(quem fala assim não é gago e é muito bem educado)
Sendo que já deve ter nascido tal qual como é (irra!)(...)
Gonçalo Capitão, deputado do PSD, sobre Eduardo Prado Coelho, in Público 11.11.02
(vá lá, desta vez não lhe chamou bolinha de sebo; a interjeição é genial)
Quanto mais me bates, mais gosto de ti
Ditado popular, consta, mas deve ser um original de Monsieur le Marquis de Sade
(hau la hatene bahasa portuges)
às 00:50
segunda-feira, 11 de novembro de 2002
(foto enviada por V.P.)
Este país é um colosso
João César das Neves, colunista do DN e professor universitário, tem andado, nos últimos dias, muito ocupado com a escalpelização de um relatório, hmm, digamos, encanitante. Exarado pela muito estranhamente portuguesa Fundação Zwentzerg (raio de nome), este relatório é assim a modos que um "corpus" do nosso modo de ser, sem ofensa; daí a escalpelização, ou autópsia, melhor dizendo. É que este cadáver Portugal, meus amigos, tresanda; nada fácil analisar, extrair tecidos, seccionar ou tirar lâminas, tão avançado é o seu, dele, estado de decomposição.
Verdadeiro colar de pérolas, a última análise refere que
(...) O mundo está envolvido num intenso processo de globalização, desenvolvimento e integração socioeconómica. Abrem-se perspectivas maravilhosas e riscos assustadores para todos. Mas, entretanto, os portugueses desinteressaram-se. Decidiram brincar à intriga, às reivindicações, aos escândalos. A História não pára e o jogo não é a feijões. Pode-se protestar, distrair-se ou adormecer. Outros se aproveitarão das oportunidades.
As preocupações da vida pública portuguesa são a protecção de privilégios, a exigência de benesses, o aproveitamento de expedientes. O grande projecto nacional é a organização de um campeonato de futebol. O propósito supremo da nação é manter os subsídios de Bruxelas. O nível do debate público é comandado pelos clubes da bola, pelos projectos de casinos e corridas de cavalos, pelas revistas de coscuvilhice, pelas telenovelas e reality shows. Toda a gente quer um nível de vida europeu e ninguém pretende fazer nada para isso.
O Governo quer agradar a todos e mascara pequenas medidas de grandes reformas. A oposição insiste em se tornar irrelevante na euforia da contradição. Perante a inoperância das autoridades, as corporações, grupos de interesse e forças de pressão atingem o auge da sua força paralisante. Portugal cai na esclerose social. (...)
Se os empresários escrevem cartas a pedir protecção nacional nas primeiras escaramuças, como vão eles aguentar a real integração económica que vem aí fatalmente? Se os sindicatos e trabalhadores fazem um barulho enorme com a timidez do Código de Trabalho, como é que vão tolerar a indispensável flexibilidade que tem de ser conseguida para sobreviver na globalização? Se os médicos mostram indignação com as propostas tímidas de transformação, como virão a ter um sistema de saúde que não os envergonhe? Se os professores estão aos gritos com mudanças elementares, como será possível lidar com o escandaloso desperdício no sistema educativo?
Repetindo a imagem de Churchill em 1936, os últimos anos em Portugal foram os anos que o gafanhoto comeu (...) E nós continuamos a preparar mais meses e anos - preciosos, talvez vitais para a grandeza do país - para o gafanhoto comer.
Os gafanhotos são empresários que sobrevivem à custa dos subsídios, da evasão fiscal e de favores políticos. São trabalhadores preguiçosos que sugam o trabalho dos colegas com «baixas», licenças e restrições aos despedimentos. São contratos exclusivos, autarquias e serviços públicos que impõem a sua incapacidade aos clientes impotentes.
Mas não há só gafanhotos. Levantar o véu da despesa pública, metade do produto nacional, revela milhões de sanguessugas, coladas às veias do sector produtivo: funcionários, direcções-gerais, institutos, consultores, projectos, interesses.
Milhões que chupam milhões para nada fazer de útil. Ao lado, estão os monumentais desperdícios dos sistemas de saúde, educação, justiça, segurança social, e tantos outros, absorvendo muito mais do que justifica a sua prestação. Onde vai isto tudo acabar?(...)
A Europa mudou muito desde 1995. Nos últimos sete anos, a Grécia curou-se e Portugal apanhou a doença grega. O êxito subiu-lhe à cabeça. Deixou de ser o bom aluno europeu e apostou na cabulice. Já não se ouve deixem-nos trabalhar!; diz-se exigimos regalias!. Entretanto, a história passa ao lado.
Portugal não tem um mau aparelho produtivo, económico e social. O drama é a existência de uma enorme classe de parasitas, que suga o produto dos demais. Aliás, ao conseguir aguentá-los, o aparelho económico até mostra que é óptimo. O problema não é o atraso, a debilidade ou a falta de produtividade. É a "febre da carraça".
Necrófagos e outras avezinhas negras, planando, piu... piu... piu...: mais uns quantos pedaços suculentos AQUI, AQUI e AQUI.
Todas as pérolas deste colar em busca Google.
Notinhas de rodapé: as minhas putativas observações cáusticas são, comparativamente e afinal, meras tergiversações inócuas; e vendo bem a coisa, o que tem isto a ver com Timor? Hem? Bom, talvez que o país do sol nascente bem pode esperar sentado (sobre os calcanhares); Portugal já era.
às 18:25
domingo, 10 de novembro de 2002
Breves
GNR BT
Nos últimos dias, foram presos e/ou acusados vários agentes da GNR; os números variam, mas o total deve rondar 130; mais uns duzentos estarão neste momento sob investigação da PJ, por suspeitas de corrupção, peculato e crimes semelhantes. O DN de hoje, Domingo 10, faz - e muito bem - uma referência aos militares da Guarda Nacional Republicana em Timor, num pequeno artigo sob o título Força de intervenção rápida: os heróis de Timor. Uma frase de Xanana Gusmão é citada, e muito a propósito: "Eu sei que lá em Portugal a GNR não goza de boa imagem, mandem-nos todos para cá, para nós são uns heróis."
D. Ximenes Belo
(...) Malvasia Fina, Cerceal e Gouveio cultivadas em meia encosta(...). Cor citrina clara, nítido e delicioso aroma de maçã bravo de esmolfe sabor macio com ligeira acidez, volume razoável e gosto igual ao aroma, muito agradável, com suficiente persistência. Preço 13 Euros. (branco)
(...) de Touriga Franca (ao tempo ainda Touriga Francesa), Touriga Nacional e Tinta Roriz, com forte maceração e temperatura controlada. De cor rubi, (...), tem aroma castiço de fumeiro (muito bom), e algumas especiarias resultantes do estágio de seis meses em barricas de carvalho. Volumoso, é de sabor aveludado e de não muita acidez. O gosto é um tanto herbáceo. Persistente. Preço 15 Euros (tinto)
DNa, 09.11.02
Confrontos no centro de Díli
Incidentes entre membros das Forças de Defesa de Timor-Leste e da polícia provocaram dois feridos e algumas detenções. Calma já está restabelecida
Notícia integral do DN (este link apenas funcionará enquanto o DN o mantiver)
às 22:00
quinta-feira, 7 de novembro de 2002
Anedota da semana
São necessárias duas legislaturas para fazer de Portugal um dos países mais avançados da Europa
José Manuel Durão Barroso, Primeiro-Ministro português, 5 de Novembro de 2003
às 03:16
terça-feira, 5 de novembro de 2002
Sabadabadu
Uma atenta visitante do Sítio de Timor teve o cuidado de me apontar algo de terrivelmente faltoso: desde Quarta-Feira, 30, que não colocava neste blogger nada de novo. Com certeza, tem carradas de razão. Pois cá vai: o célebre Hotel Makota foi re-inaugurado, agora sob a alta e original designação de Hotel Timor, e sob o não menos prestigiado patrocínio do industrial e "chevalier d'industrie" Mr. Stanley Ho.
Fontes geralmente bem informadas, e outras igualmente nem por isso, garantem que não tarda nada vamos ter Casino por aquelas bandas.
Ai que grande alegria. Aqui fica o reparo, pois.
Desejam-se as melhores venturas aos afortunados, em suas apostas e noitadas, e auguremos um radioso futuro ao jet-set diliano.
às 04:54
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