domingo, 31 de agosto de 2003


jornal Público


O Funeral de Maggiolo Gouveia e a "Ética" de Paulo Portas
Por VASCO LOURENÇO
Domingo, 31 de Agosto de 2003; Jornal Publico

A exploração feita por Paulo Portas à volta do funeral de Maggiolo Gouveia trouxe-me à memória uma conversa com Melo Antunes, poucos dias antes do 25 de Abril de 1974, ocorrida em Ponta Delgada. Falávamos sobre a enorme aventura em que estávamos prestes a embarcar e foi com espanto que o ouvi afirmar: "Como tu, estou convencido que vamos vencer. Mas o pior virá depois. Como não tomaremos as medidas necessárias, para defender o nosso projecto, acabaremos por permitir aos fascistas o seu regresso e a sua recuperação."

"Não percebo", retorqui surpreendido, "se pensas que vai ser assim, porque não tomamos as medidas que consideramos necessárias?"

"O problema é que nós não conseguimos tomar certas medidas. Os valores em que acreditamos e defendemos não nos permitem isso. Os nossos adversários, que não têm valores éticos e morais, é que não hesitam em assumir quaisquer atitudes, desde que isso lhes sirva para os objectivos que pretendem atingir. Para eles, os fins justificam quaisquer meios", respondeu-me Melo Antunes, admirado com o meu espanto. Concordou de seguida comigo, quando afirmei: "Bem, no mínimo, temos que lhes dificultar a vida."

Lembrei-me agora desta autêntica lição política que recebi do Melo Antunes, porque se verificou o que ele então vaticinou: só conceitos éticos e morais muito distorcidos, só a defesa e a prática de que tudo é permitido, desde que os nossos objectivos se concretizem, poderiam levar o ministro Paulo Portas a agir como agiu.

Esta atitude de Paulo Portas veio pôr em causa todo um processo de pacificação, todo um processo de conciliação que se vem desenvolvendo há alguns anos.

A democracia não se instalou em Portugal por decreto. Depois do 25 de Abril, houve todo um processo de implantação da democracia, processo intenso e convulso que teve de ultrapassar vários e difíceis obstáculos.

Até que a aprovação da Constituição fosse um facto, até que as colónias conquistassem a sua independência, várias foram as tentativas golpistas de grupos minoritários que procuraram impor as suas posições e inviabilizar o cumprimento do Programa do MFA.

Lembremos apenas as principais: o 28 de Setembro 1974, o 11 de Março de 1975, o 25 de Novembro de 1975 (todas no continente, pois nas ilhas não se passou das ameaças...); o 7 de Setembro de 1974, em Moçambique, e a tentativa frustrada em Angola, porque detectada e desmantelada a tempo, ambas ligadas ao 28 de Setembro; a acção da UDT em Timor em Novembro de 1975, que deu origem à guerra civil e provocaria a invasão e a ocupação desse território pela Indonésia.

A todas essas tentativas o poder de então, onde participava o MFA, teve capacidade para se lhes opor, com excepção de uma delas, precisamente a de Timor.

Aí, o governador considerou não ter condições para se intrometer no meio das facções que se envolveram na guerra civil, não interveio e teve que retirar do território, quando se consumou a invasão da Indonésia, chamada por quem deflagrara as hostilidades e com a cobertura dos EUA e da Austrália.

Só passados mais de 26 anos e após um holocausto de mais de 200.000 timorenses, estes conseguiram a sua independência, E, como a História veio provar, os que iniciaram a guerra civil não representavam a maioria do povo maubere...

Todo esse processo foi complicado, sendo no entanto indiscutível que os militares agiram, de uma forma geral, conforme as suas consciências, defendendo de forma honesta os valores em que acreditavam. Certos ou errados (todos cometemos erros), procurando servir Portugal e os portugueses e não almejando benefícios pessoais.

Por tudo isso, tem sido possível assistirmos a uma autêntica pacificação, obtida através de amnistias e outras decisões do mesmo tipo. Sempre mais fácil de conseguir e praticar em relação aos que optaram por posições mais conservadoras e até anti-25 de Abril do que em relação aos que assumiram atitudes mais progressistas e revolucionárias. Basta ter presente que o processo de pacificação em relação a estes ainda está em curso e vem atravessando algumas dificuldades incompreensíveis...

É por isto que não compreendo como foi possível pôr tudo em causa na maneira como foi subvertido o funeral do tenente-coronel Maggiolo Gouveia!

Os heróis, para Paulo Portas, são os que conjugaram o verbo ficar? Então, todos os outros, os que aceitaram os acordos que levaram ao reconhecimento das independências são traidores?

Os heróis, para Paulo Portas, são os que optaram por um dos partidos que se confrontavam nas diversas colónias, alguns formados à pressa pelos ainda colonizadores? Então, os que optaram por se manter neutros, leais ao poder em Portugal, são traidores?

É lícito, portanto, concluir que Paulo Portas não faria algo diferente de Salazar, quando exigiu aos militares na Índia que apenas poderiam regressar mortos... ou de Marcelo Caetano, que recusou liminarmente qualquer hipótese de solução política para as colónias.

Não conheci pessoalmente Maggiolo Gouveia. Recordo-me de sempre ter ouvido sobre ele opiniões favoráveis, quanto às suas qualidades profissionais e humanas. Por isso, me custa mais ainda verificar como foi destruída a vontade da família, que certamente preferiria encontrar a paz de espírito com o regresso e o funeral dos seus restos mortais. Paz que foi fortemente prejudicada pela polémica que Paulo Portas provocou, quando fez sair um comunicado, com afirmações inaceitáveis, e com a transformação das devidas honras militares em honras de Estado inexplicáveis e incompreensíveis - que vieram pôr em causa não só os militares que não imitaram Maggiolo Gouveia (como é irónico ver fazer acusações de pró-comunistas a pessoas como Lemos Pires ou Martins Barrento!...) e criaram fortes problemas nas relações entre Portugal e Timor, nomeadamente com os principais governantes do mais jovem país independente do mundo (que, num gesto de conciliação, colaboraram com a recuperação dos restos mortais de Maggiolo Gouveia).

Acredito que, quando Maggiolo Gouveia decidiu armar a UDT para a tentativa de conquista do poder, terá agido de acordo com o que considerava ser melhor para Portugal, para Timor e para os timorenses. Corajosamente, decidiu-se a avançar para o que considerava correcto e pensava poder sair vitorioso. Rapidamente, a evolução da situação lhe mostraria como estava errado. Desde
logo, a maioria dos timorenses, integrados na Fretilin, lhe faria ver que a UDT estava em minoria em Timor. Depois, já com ele feito prisioneiro, seria a própria UDT uma das forças a apelar à invasão de Timor pela Indonésia. E aí começaria uma ocupação violenta, que só terminaria depois de mais de 200.000 mortos.

A distância entre a concepção de herói e traidor é, por vezes, bastante ténue. A Maggiolo Gouveia prefiro vê-lo como mais uma das vítimas do processo de descolonização/independência de Timor. Ainda que bastante responsável...

Por isso, gostaria de o ter visto reintegrado, regressado ao seu país e sepultado em paz...

Lamento profundamente tudo o que se passou e preferia não tomar posição pública. No entanto, não posso deixar de intervir, procurando evitar deturpações da História. Ou ataques, mais ou menos abertos, mais ou menos encapotados, ao 25 de Abril.

Salgueiro Maia dizia, com sarcasmo, que nós somos os implicados no 25 de Abril. Com o andamento dos tempos, alguns gostariam de nos julgar pelo nosso acto libertador. Por nós, militares de Abril, apesar de tudo, continuamos a considerar que valeu a pena. E disso nos orgulhamos.

E por isso, quando estamos prestes a evocar os 30 anos do fim da ditadura e do arranque para a democracia, afirmamos bem alto não reconhecer nem ao cidadão Paulo Portas, nem ao ministro de Estado e da Defesa Nacional qualquer legitimidade para os ataques inqualificáveis que acaba de fazer ao 25 de Abril e aos militares que o protagonizaram.



sábado, 30 de agosto de 2003


jornal Público

Maggiolo Gouveia e Os Seus Detractores
Por CARLOS DE AZEREDO
Sábado, 30 de Agosto de 2003


Certo dia, no já longínquo ano de 1980, o primeiro-ministro dr. Francisco Sá Carneiro chamou-me ao seu gabinete e, entregando-me duas pastas "Âmbar" com a espessura de uma mão travessa cada, pediu-me para ler o célebre "Relatório de Timor" e ainda os depoimentos dos vários militares inquiridos, insertos na segunda pasta e que serviram de fundamento ao referido relatório, a fim de lhe dar um parecer sobre o assunto.

Demorei seis dias, na leitura e estudo do relatório, seis infindáveis dias de vergonha, de amargura e indignação, à medida que me ia inteirando da tragédia que se viveu na mais oriental parcela do nosso império, durante os últimos meses da administração portuguesa.

Tudo o que de pior não pode de forma alguma ser encontrado entre militares, ali aconteceu e abundou:

- uma chefia indecisa, timorata e sem autoridade;

- oficiais afectos a ideologias filo-comunistas transformados em orientadores políticos das tropas;

- entrega por militares dois depósitos de armamento e munições à formação política timorense Fretilin, então de orientação marxista, em luta contra a UDT, que pretendia ainda a permanência temporária da nossa administração;

- a quádrupla fuga dos mais altos responsáveis com o abandono das tropas acantonadas nas várias guarnições do território (mais tarde evacuadas pelo CEMFA Morais e Silva), etc, etc.

Salvou-se, no meio desta vergonhosa desgraça, o coronel comandante militar, que, não aceitando a politização das suas tropas, pediu a exoneração do cargo, e várias unidades militares que mantiveram a disciplina até final.

Mas sobre tudo e sobre todos, avultou a personalidade ímpar, nimbada da trágica grandeza que o conflito entre valores fundamentais imprime às atitudes humanas, do tenente-coronel Maggiolo Gouveia.

Acusando corajosa e frontalmente a política, imposta no território, de criminosa, por conduzir as gentes de Timor, ainda sob a nossa responsabilidade, para um desastre de proporções imensuráveis (como se veio a verificar), Maggiolo Gouveia foi forçado pelas suas convicções, a tomar a única atitude que lhe restava: Depor perante o governador os seus galões de tenente-coronel do Exército e aliar-se ao grupo de timorenses que se opunha à "bandalheira" marxista armada e municiada por elementos do nosso (?) Exército.

Por tudo isto que pude conhecer, não só pela leitura do célebre "Relatório de Timor", mas ainda pelo relatório da Cruz Vermelha Internacional e pelo "Diário do Notário" de Dili, não posso deixar de reagir com indignação contra a acusação de desertor que, segundo a imprensa, algumas "toupeiras fardadas", vergonhosamente escondidas nos subterrâneos do anonimato, vieram bolsar sobre o nome de um camarada morto "por Portugal", por Timor e pela sua fé".

Além do mau gosto, da inclassificável atitude em termos de camaradagem militar, da covarde falta de coragem em assumir responsabilidades, essas "toupeiras fardadas de militares" denotaram uma falta de ética castrense deplorável.

É que, ser militar é apenas um meio, um instrumento, para servir Portugal, e quando o ambiente militar em que nos inserimos desserve a pátria para obedecer a ideologias que nada têm a ver connosco, o homem, alicerce imprescindível em que se constrói o militar, é posto perante o dilema trágico de ter de optar entre a instituição que já não serve e a razão última do seu servir que é a sua pátria.

Foi essa a grandeza e a tragédia de Maggiolo que os pigmeus, "entoupeirados" no anonimato, não compreenderam pela simples razão de não bastar, para se ser militar, andar mascarado com uma farda.

Além do mais, Maggiolo assumiu a sua atitude com o carácter e a frontalidade que devem ser inseparáveis que a carreira, enquanto aqueles que pretendem insultar o seu nome se acobardam no vergonhoso anonimato dos fracos e possivelmente dos culpados pela tragédia de Timor.

Quanto a uma senhora, que já foi diplomata e anda para aí na praça pública em "bicos dos pés", nem merece qualquer comentário da minha parte: use mais a cabeça e os calcanhares e menos os dedos dos pés.

Quanto ao chamado "Bloco de Esquerda", que há a dizer sobre a pobreza e o mau gosto da sua intervenção neste assunto?

Façamos silêncio sobre as misérias alheias.

Carlos de Azeredo

general



quinta-feira, 21 de agosto de 2003

Recebido, através do grupo Ajudar Timor, segue o texto integral do discurso de S.E. o Presidente Xanana Gusmão proferido no passado dia 20; pela sua especial relevância, parece-me merecer uma leitura atenta, cuidadosa e também ela integral.


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O PRESIDENTE DA REPÚBLICA

MENSAGEM À NAÇÃO

ALUSIVA AO "20 DE AGOSTO"
DIA DAS FALINTIL-FDTL
UAIMORI, 20 DE AGOSTO DE 2003



Em primeiro lugar, como ex-guerrilheiro das FALINTIL, quero saudar a todos quantos, vivos ou mortos, fizeram parte da valorosa geração das Gloriosissimas Forças Armadas de Libertação Nacional de Timor-Leste - FALINTIL.

Em segundo lugar e como Presidente da República, por razões de programa que incide particular atenção na estabilidade interna actual, lamento não poder estar em Uaimori, porque tenho que partir de Dili para estar com a população das localidades de Beco e Salele (Suai) e Lour e Lepo (Bobonaro) , na região fronteiriça do Sul do país e, no dia 22, reabrir os encontros de reconciliação na fronteira.

Como viemos todos a Uaimori para celebrar o dia das FALINTIL, existem algumas questões pertinentes que eu desejava abordar e que eu não deveria deixar para o próximo ano.

1. Após o golpe de 11 de Agosto de 1975, pela UDT, várias tentativas para o diálogo entre a UDT e a FRETILIN, por parte do governo colonial e por parte das tropas timorenses, integradas no espírito do MFA, que liderava o 25 de Abril em Portugal, falharam pura e simplesmente.

Como resposta à adesão ao golpe, por parte das companhias de Baucau e Lospalos, a FRETILIN iniciou também com o levantamento da Companhia de Aileu, em 17 de Agosto de 1975, depois da proclamação pelo CCF da Insurreição Geral Armada, em 15 de Agosto, nas encostas sobranceiras de Dili, em Talitú.


Estas foram as bases políticas para a criação das FALINTIL, em 20 de Agosto daquele ano, pela adesão das tropas timorenses do Quartel-General (colonial) e das companhias estacionadas em Dili.

As FALINTIL - FORÇAS ARMADAS DE LIBERTAÇÃO NACIONAL DE TIMOR LESTE nasceram sob a umbrela de um partido político, a FRETILIN, para combater outro partido político, a UDT.

Depois das infiltrações das tropas indonésias, ao longo da fronteira, a partir dos fins de Setembro e que se intensificaram a partir de Outubro com claro objectivo de controle territorial, pela contínua progressão no terreno e, mais ainda, depois de 7 de Dezembro daquele ano, as FALINTIL adquiriram a verdadeira dimensão do significado de 'Libertação Nacional', porque estava a combater uma tropa estrangeira, que violava a integridade do nosso solo.

Em 1977, a política incorrecta do 'fuzil ao serviço da ideologia' provocou o assassinato de vários comandantes superiores das FALINTIL, entre outros elementos, tidos como traidores da Pátria, mas que, na verdade, eram nacionalistas e, sobretudo,bons comandantes.

Como consequência e depois da grande derrota sofrida, em 1978 e 1979, as FALINTIL ficaram reduzidas a umas centenas de homens e armas, devido em parte ao aliciamento provocado por mesmo alguns membros do CCF, que negaram os princípios que tanto defendiam, nos primeiros três anos, nas Bases de Apoio.

A política de revisão do conceito de Unidade Nacional, em 1981, permitiu que se encetassem os primeiros passos de reconciliação nacional, entre os timorenses, o que impulsionou gradualmente a participação, espontânea e confiante, de todos os componentes da sociedade timorense, desde partidos políticos aos que, no início, defendiam a integração ou os que, posteriormente, estavam a servir os ocupantes.

2. Em 1984, devido à irresponsabilidade e à inépcia, demonstrada desde Agosto de 1983 pelo Estado-Maior das FALINTIL, colocado nas Regiões Centrais do País, e que provocavam constantes baixas dos guerrilheiros, houve a necessidade de se pôr côbro à situação de desânimo no seio das Forças e corrigir a situação de total inactividade operacional das Companhias, passando-se a entregar um maior dinamismo às mesmas, na tomada de iniciativas de actuação.

Perante isto, houve por parte do ainda então Estado-Maior das FALINTIL uma actuação impensada no intuito de persuadir as Forças a se rebelarem contra o Comando Superior da Luta. Felizmente, os guerrilheiros demonstraram grande maturidade e se negaram ao uso da violência para a solução de conflitos internos e opuseram-se à qualquer perspectiva de derramamento de sangue.

Esse espírito de maturidade permitiu que o conflito, inicialmente de carácter meramente militar e disciplinar mas que, depois, tomou uma natureza ideológica, revolucionária, que não aceitava a mudança da
ideologia de partido único para uma democracia pluralista, fosse resolvido sem necessidade de confronto armado.

Contudo, por continuarem aferrados às suas ideias, Mauk Moruk, que era o Vice-Chefe do Estado-Maior e 1º Comandante da Brigada, afastou-se e foi-se render, com armas e munições, Olo Gari, que era o 2º Comandante da Brigada, convidado a continuar nas fileiras das FALINTIL, recusou e se separou da Organização até que, tempos depois, doente, veio para as Vilas e Kilik, que anteriormente era o Chefe do Estado-Maior, perdesse a vida num dos combates que a guerrilha teve com o inimigo.

Refiro-me a este incidente, porque eu sei que, hoje, muitos que até nem conhecem o historial da resistência, querem ou continuam a levantar esta questão, como uma ferida aberta a exigir uma solução. Muitas testemunhas ainda estão vivas para depôr sobre a verdade dos factos.

3. Foi conseguido que, em 1986 também no exterior, a UDT e a FRETILIN aceitassem formar a Convergência Nacionalista, acto político necessário para corresponder com o estádio avançado da política de Unidade Nacional, no interior da Pátria.

Alcançados assim os objectivos de Reconciliação Nacional, decidiu-se, em 1987, que as FALINTIL se despartidarizassem para, a partir daí, serem o suporte fundamental para o fortalecimento da organização da resistência, no seu todo, podendo assim conduzir a Luta até à Vitória, em 30 de Agosto de 1999.

Esta foi, em resumo, a história e este foi também, em resumo, o papel fundamental, a missão histórica, das FALINTIL: Unir o Povo para Libertar o País.

4. Desde que se alcançou o objectivo que todo o Povo assumiu e que era de libertar a Pátria, depois de sermos um país independente e soberano, qual deveria ser o papel das Forças Armadas? Libertar ou Defender? Esta é a questão que se põe para se compreender que todo e qualquer processo social e político, não é um processo morto. Deve ser um processo dinâmico, um processo vivo, um processo que evolue.

Se as FALINTIL não evoluissem, durante a Resistência, a Reconciliação Nacional e a Unidade Nacional não teriam sido capazes de existir e teria sido dificílima a vitória que conseguimos.

Hoje e lamentavelmente, algumas opiniões ainda questionam a mudança das FALINTIL para FDTL. As FALINTIL, como Forças de Libertação, cumpriram a sua missão! Repito: depois de sermos admitidos na ONU, como um 191º país soberano e independente, as nossas Forças Armadas deveriam receber a missão de 'libertar' ou 'defender' o país?

5. Realmente, somos uma sociedade democrática, mas se a democracia nos obriga a seguir toda e qualquer opinião individual e/ou opiniões de um só grupo, a democracia se tornará num caos, onde não
somos capazes de nos entendermos e não vale a pena haver Estado, haver instituições, haver leis, haver normas para regular a participação dos cidadãos.

Já me fizeram esta pergunta, em vários sítios: qual é a democracia que concebemos em Timor-Leste? Pela Constituição, há dois mecanismos que asseguram a vivência democrática e que são: a democracia representativa, através dos órgãos de soberania do Estado, eleitos e que tomam decisões, de âmbito dos interesses nacionais e a democracia participatória, que dá aos cidadãos, à população, à sociedade, por um lado, expressar as suas opiniões e, por outro, participar activamente no processo de desenvolvimento das suas próprias comunidades.

Aqui, existe necessàriamente dois níveis de decisão: o nacional e o local. Aqui, existem também duas formas de expressar opiniões e vontades ou aspirações: uma, através dos seus representantes eleitos, e outra, individualmente, em comunidades.

Se não existe esta percepção dos mecanismos legais, existentes, de construção do Estado democrático, qualquer opinião é uma lei e isto não é democracia.

Eu costumo recorrer a um exemplo do nosso processo e que o povo não deve perder de vista, para perceber o espírito da democracia, que deve ser saudável e construtivo. Aquando foi dos debates finais da Assembleia Constituinte, alguns partidos votaram contra partes da Constituição; quando foi para aprovar a Constituição, todos os partidos, com assento na Assembleia Constituinte, como representantes legítimos deste Povo, assinaram o importante documento, que é hoje o garante das liberdades, dos direitos e dos deveres de cada cidadão.

Só os partidos políticos, que o povo confiou e elegeu, e que tenham assento no Órgão de Soberania, que é o Parlamento, podem dizer que têm legitimidade de falar em nome do Povo. Qualquer outro grupo de carácter politico, que queira aparecer 'em nome do Povo' deve, pelas normas constituicionais, passar pelas eleições.

Nalguns sucos, por que passei, aparecem elementos que se afirmam falar em nome de todo o Povo, 'Povo Maubere e, inclusive, Povo Bibere'. Aparecem a defender a Constituição de 1975, aparecem a defender que não se deve mudar o nome das FALINTIL e eu pergunto-lhes pela idade e o que fizeram nos 24 anos da Resistência.

Muitos que defendem a Constituição de 1975, eram menores de idade em 1975. E muitos que defendem a não mudança das FALINTIL nunca pegaram em armas.

Nos inícios de 1976, eu era comandante de pelotão até a 1ª Organização da Resistência, em Maio e eu passei para quadro político. Em Março de 1981, assumi o Comando das FALINTIL e estão aqui também presentes os valorosos comandantes que serviram as FALINTIL, na busca do objectivo de Libertação Nacional, conseguida em 30 de Agosto de 1999. Em Agosto de 2001, deixei as FALINTIL, com a mesma convicção quanto ao processo, como foi desde o seu início.)

Ora bem, já depois da libertação da Pátria, aparecem jovens que se arvoram serem os mais entendidos em questões do processo e em questões das próprias FALINTIL. E isto tudo está a causar preocupação por parte do povo e certa instabilidade, sobretudo, numas localidades.

Apelo a todos para que respeitemos o processo. E a questão é que os que iniciaram o processo (e nem eu faço parte desta lista) ainda estão vivos, com maior experiência, obviamente recheada da amargura dos erros e do sabor de sucessos.

Não sejamos subjectivos, porque a falta de objectividade conduz sempre à intolerância e à intransigência. E, como Presidente da República, eu não vou tolerar que isto continue, sobretudo se é para desestabilizar, de uma ou de outra forma, o processo.

6. Quando se fala de desestabilização, não devemos pensar apenas em certos conflitos provocados por um ou outro grupo insatisfeito. Nós sempre gostamos de apontar o dedo para a CPD-RDTL e
talvez mais porque alguns ex-hansips e ex-milícias também entraram na CPD-RDTL. Nós também gostávamos de apontar o dedo para o Colimau 2000, talvez porque os elementos do Colimau 2000, que eram activos na resistência clandestina e eram perseguidos pela polícia indonésia, hoje estão frustrados porque veem que alguns polícias que os perseguiam no tempo indonésio, voltaram a ser polícias e a portar-se como se fossem polícias indonésios e não polícias da nova Nação democrática, que é Timor-Leste.

Porque estamos no início da construção do Estado democrático e de direito, (começo ainda frágil, no sentido da nossa própria fraqueza e certa falta de maturidade), a desestabilização democrática pode ser resultado também de outros factores, que não a violência como a compreendemos nas estatísticas da polícia.

Ultimamente, o povo tem acompanhado as polémicas que os políticos produzem para vender ao povo, como se fosse o supermi dos quiosques sem conta, que abundam como sinal de desenvolvimento económico em todo o país.

Estamos a aprender a usar a democracia, estamos a aprender a compreender o verdadeiro sentido da democracia. O nosso povo está a tentar compreender a democracia, pela forma como os seus políticos, como os seus representantes, brandem a arma da democracia.

E o nosso povo assusta-se, porque os políticos falam de golpe. E o nosso povo tem receio que os nossos políticos queiram o golpe. Porque o nosso povo sofreu, no passado, em circunstâncias de golpe e contra-golpe. Não foram os políticos que morreram, foram elementos do povo, que acreditavam na sabedoria dos políticos, os que perderam a vida e sofreram nas prisões.

Será que se está a tentar intimidar o povo, pela lembrança da insensatez dos políticos de 75? Será que isto apareceu como a melhor forma de preparar mentalmente grupos ou facções, em defesa violenta de um ou outro partido?

Quem fará o golpe? Com que meios? Para que? - estas são as perguntas que aparecem na boca do povo.

7. Ultimamente também, houve um certo mal-estar, grandemente explorado pela sociedade, entre a PNTL e as FDTL. O golpe será com a PNTL ou será com as FDTL? O povo pergunta assim, porque os
políticos falam de golpe.

Já fiz saber que as FALINTIL nasceram de uma situação de guerra entre irmãos, isto é, uma guerra entre os próprios timorenses. Mas ninguém deve esquecer também que, depois, ao assumir com maior clareza a sua missão, as FALINTIL empenharam-se a unir o Povo, ficando fora da influência de qualquer partido político e, hoje e para o futuro, as FDTL saberão qual é a sua verdadeira missão num Estado democrático e de direito.

A PNTL foi criada, no processo de transição à independência, conseguida em 20 de Maio do ano passado, para ser uma nova polícia, diferente da polícia indonésia que o povo conhecia nos 24 anos
anteriores. Eu sei que existe uma total falta de ética e de profissionalismo na polícia timorense e tenho vindo a receber muitas queixas, por parte da população, de abusos de poder e de indisciplina,
nunca sancionados, de alguns e não poucos elementos da polícia, que dão a sensação de que eles é que detém o Estado nas suas mãos.

Quanto a isto, eu sei que a UNMISET, o Governo e a própria Polícia estão de acordo com a ideia de um Debate para modificar esta situação incontrolável e inaceitável, que retira toda a credibilidade à polícia e pode ser fonte de futuras e graves situações de instabilidade. Eu sou da opinião de que o público, em geral, deveria participar neste Forum, para que as Instituições do Estado conheçam bem as falhas e as corrijamos a tempo.

Com isto tudo, devo dizer que é, de todo, reprovável, a leviandade com que políticos e responsáveis neste processo de construção democrática, brincam a assustar o povo, ao invés de incutir confiança no povo quanto ao processo democrático que todos estão empenhados de defender.

8. Enquanto Presidente da República (e eu ainda tenho 4 anos de mandato), peço a todos os componentes da sociedade e sobretudo aos políticos para se refrearem em pronunciamentos imbecis e quero
afirmar também a todo o Povo que, como guardião da Constituição, não permitirei a quem quer que seja o pequeno devaneio político para fazer sofrer o Povo.

Estou-me a dirigir a todo o Povo para acreditar no processo democrático que já iniciámos e que não percam o tempo a pensar se vai haver ou não vai haver golpes. O povo já está farto de sofrer e não
permitirei que isso aconteça de novo.

Existem, pelo mundo fora, países já independentes dezenas de anos, e que hoje continuam a brincar a violentar e a fazer sofrer o povo. E isto porque não cuidaram bem do processo de independência, e
isto porque acreditavam que a independência é apenas ter uma bandeira, um Presidente corrupto, um Parlamento fantoche, um Governo ineficiente, uma Justiça incapaz. Nesses países, hoje há guerra, nesses países, acontecem golpes ou tentativas de golpe, para se tomar conta do poder.

A independência, nesses países, tem o significado de 'poder': quem tem poder, quem manda, quem pode. A independência, nesses países, não dá oportunidade para se pensar em 'quem serve'. A independência, nesses países, deu apenas a oportunidade aos políticos e aos governantes para manter o poder, custe o que custar, mesmo com contínuo sofrimento do povo.

O Poder, nesses países, obceca as pessoas, a ambição de manter o poder entra em contradição com a democracia e, assim, o poder começa a albergar a intolerância e, assim, o poder procura frenéticamente fortalecer-se pelo uso indevido dos seus serviços de inteligência que praticam o espreitar dos movimentos dos adversários políticos, e praticam a intimidação pela própria divulgação de rumores.

9. Hoje, alguns, como os irmãos da CPD-RDTL, questionam a soberania, colocando a ênfase na saída da UNMISET, do PKF, da UNPOL, etc., para sermos nós próprios, os timorenses, a pegar nisto ou naquilo. E isto é errado!

Todos deverìamos questionar a questão da soberania, do povo, mas por outro ângulo, pelo ângulo que dá o verdadeiro sentido à nossa independência. Soberania do Povo, na sua decisão em eleições dos seus representantes, e soberania do Povo na sua participação directa e permanente na construção do País a partir das suas comunidades.

Todos continuamos à espera de que o Governo e o Parlamento se pronunciem quanto à questão fundamental do 'Poder Local'. A democracia só será uma prática consciente do nosso povo, quando se garantir que o povo participe activamente na solução dos seus problemas locais.

Aí, se coloca a questão da soberania, como é entendida na Constituição. A soberania não significa termos apenas a Constituição, que nos proclama independentes de outros Estados. A soberania deve ser um acto de vivência democrática do nosso povo, para não iludirmos o povo a pensar que é soberano, apenas porque elegeu os seus representantes que falam por ele, mas muitas das vezes ou não falam ou pensam em si mesmos, em como não perderem a posição que ocupam, em como continuarem no poder.

É, por isso, que peço ao povo para se unir em volta do processo democrático, para alimentarem no seio das comunidades o espírito de crítica mas de tolerância, o espírito de criatividade e de participação.

Quando todo o povo estiver unido neste processo de construção do nosso Estado de direito, estaremos capazes de construir a Nação. E ninguém se preocupará quando algum imbecil voltar a assustar o povo com golpes.

Quando todo o povo estiver a gozar do seu direito de decidir activamente no processo de construção do País, a partir das suas próprias comunidades, eu acredito que os intelectuais, políticos e
governantes vão compreender efectivamente que este povo quer construir a paz, baseada na tolerância e justiça social, quer desenvolver o país, com bases na disciplina, no profissionalismo e no trabalho árduo e com bases na luta contra a corrupção e nepotismo.

Apelo ao todo o Povo para acreditar no futuro, acreditando, mais uma vez, em si próprio.


Vieira de Mello: livro de condolências disponível em Portugal

O Centro de Informação das Nações Unidas em Portugal vai abrir, na quinta e sexta-feira, um livro de condolências para homenagear o diplomata Sérgio Vieira de Mello, anunciou a instituição em
comunicado.

As pessoas interessadas podem-se dirigir à rua Latino Coelho, n.º 1, edifício Aviz, bloco A-1, 10º, em Lisboa, das 10 às 13 horas e das 14.30 às 17 horas, para prestar a sua homenagem ao diplomata que morreu na terça-feira, em Bagdad, num ataque terrorista à sede das Nações Unidas na capital iraquiana.

20-08-2003 17:02:42
DiárioDigital

quarta-feira, 20 de agosto de 2003


página de SVM no site da ONU

Sérgio Vieira de Mello
15.03.48-19.08.03


segunda-feira, 18 de agosto de 2003

Maggiolo: herói ou traidor?



Opinião. A minha, se é que interessa a alguém, e apenas isso.
Seria fastidioso e irrelevante estar agora a transcrever aqui o muito que se tem escrito sobre o assunto. O Estado português homenageia aquele ex-oficial das FA portuguesas; uns acham bem, perfeitamente, outros acham mal, traição, etc.
Há, no meio destas opiniões opostas, algo que ainda não entendi nem vi referido: quando foi fuzilado, aquele militar pertencia a que exército? Qual era o seu superior hierárquico? Obedecia a ordens de quem? "Desertou" para que forças "inimigas"?
Renegou a Pátria? É que, neste caso, teria sido de facto um traidor e não poderia nunca ser homenageado ou "honrado".
Honras de Estado ou honras militares, será esta a questão? Parece que sim, resume-se a isto. Mais um beco sem saída, outro desporto nacional. Questões de lana caprina.
Na minha opinião, um Português morreu em combate por aquilo em que acreditava: pelo que julgava ser melhor para Timor e para a sua Pátria, Portugal. Naqueles tempos conturbados, numa situação de completa ausência de cadeia hierárquica, de diluição do Poder e das instituições, em "statu quo" de absoluta anarquia, aquele ser-humano, cercado, exausto, vendo tudo destruído, tentou decidir o que poderia ser o mal menor. Por isso foi preso e fuzilado. Com honra.
Só quem nunca esteve em Timor pode persistir em ver aquele país como se fosse aqui ao lado, como se fosse na fria e velha Europa. Apenas aqueles que não viveram os tempos da "revolução" e da "descolonização" podem continuar a fingir que estas coisas se passaram ontem e não há quase trinta anos. A situação era outra, a época era outra, o país e o continente eram outros. Apenas uma coisa, ou, melhor, duas, se mantêm iguais. Parece que as últimas palavras do Tenente-Coronel, antes de receber de peito aberto as balas assassinas, foram:
Viva Timor!
Viva Portugal!


terça-feira, 12 de agosto de 2003

Adeus português ao último combatente


Quase 30 anos depois, Portugal vai finalmente prestar homenagem ao tenente-coronel Rui Maggiolo Gouveia. Os restos mortais do antigo comandante da PSP de Timor, fuzilado em Dezembro de 1975 pela Fretilin, chegaram já a Lisboa e o funeral realiza-se na segunda-feira, no distrito de Santarém, com a presença do ministro da Defesa, Paulo Portas, e do novo chefe de Estado Maior do Exército, Valença Pinto.

Estas exéquias culminam um longo processo que envolveu diversos contactos oficiais, tanto em Portugal como em Timor-Leste. Segundo disse ao DN uma fonte governamental, «o empenho das autoridades de Díli foi fundamental» para localizar os restos mortais do tenente-coronel, cujo nome figura no monumento aos heróis do Ultramar, em Belém, como a última vítima oficial dos conflitos nos ex-territórios sob domínio português, entre 1961 e 1975.

Quando estalou a guerra civil em Timor, em Agosto de 1975, Maggiolo Gouveia era a terceira autoridade mais graduada no território. Com a fuga do governador Lemos Pires para a ilha de Ataúro, o então comandante da PSP aderiu a uma das facções em conflito, a União Democrática Timorense, que defendia a manutenção de laços políticos entre Timor e Portugal. Dias depois, foi preso pela Fretilin e acabaria por ser executado já após a invasão do território pela Indonésia, em Dezembro de 1975, juntamente com outros prisioneiros portugueses e timorenses, às ordens daquele movimento _ hoje no poder em Díli.

Durante 28 anos, soube-se apenas que o corpo havia sido enterrado numa vala comum, na região montanhosa de Ailéu, a sul da capital timorense, sendo desconhecido o paradeiro exacto dos restos mortais, que só viriam a ser identificados no passado dia 25 de Junho. A 10 de Julho, a urna foi enviada por mala diplomática de Díli para Portugal, tendo sido encaminhada para o Instituto de Medicina Legal de Coimbra.

DEVER POR CUMPRIR A homenagem ao antigo comandante da PSP de Díli, que tinha 46 anos quando foi morto, «era um dever por cumprir do Estado português», disse ao DN uma fonte próxima do ministro da Defesa, salientando que «deve ser feita justiça a um oficial do Exército que foi torturado, assassinado, morreu heroicamente e cumpriu todos os seus deveres». Esta era, de resto, uma promessa feita por Portas à família de Maggiolo.

A mesma fonte sublinhou também o empenho revelado neste caso pela ministra da Justiça, Celeste Cardona, o procurador-geral da República, Souto Moura, e o embaixador de Portugal em Díli, Rui Quartim Santos, através dos contactos mantidos com os seus homólogos timorenses. «Só com a devida autorização das autoridades de Timor foi possível localizar o corpo, abrir a vala comum e confirmar que se tratava do oficial português», acrescentou a fonte próxima de Portas.


Rui Maggiolo Gouveia - Ex-comandante da PSP de Díli

Foi um dos mais brilhantes oficiais portugueses. Entrou em 1949 para a Escola do Exército, tendo concluído o curso de Infantaria em 1953.
Cumpriu várias missões no Ultramar, designadamente em Angola.
Condecorado com a Medalha da Prata de Valor Militar com Palma. «Coragem inexcedível, sangue frio, espírito lúcido e calmo em todas as circunstâncias», como reza a sua folha de serviços. Em Junho de 1973, chegou a Díli, onde era comandante da PSP quando eclodiu a guerra civil.
«Morro por Timor», terá dito momentos antes de ser fuzilado pela Fretilin em Dezembro de 1975.




Diário de Notícias

sexta-feira, 8 de agosto de 2003

Os bravos do pelotão


Pronto. Não se fala mais nisso. Assim sendo, havendo coisas destas a surgir ainda no espaço cibernético, o sítio de Timor - um entre iguais - aqui permanecerá. Orgulhosamente acompanhado.

Vejam isto!




terça-feira, 5 de agosto de 2003

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enviado por Carmen Melo

Notícias de Timor


O meu pai é professor.
Está em Timor a ensinar as crianças pobres.
Como sou pequenina, ainda não sei ler, mas a minha mãe lê-me as cartas do meu pai, onde me fala daquelas terras do Sol-Nascente, das crianças como eu, das saudades que tem de mim.
Assim, pedi à minha mãe que escrevesse, que falasse do meu gosto pelos livros, das letrinhas que já conheço.
Um dia hei-de ser escritora, para contar as histórias das crianças de Timor-Leste de que o meu pai fala nas cartas.
E do pôr do Sol que ele diz ser muito lindo.

Benjamim Feliz
Vila Nova da Barquinha

CEM PALAVRAS, DN 01.08.03, pg. 7